Primeira semana da Quaresma
Dispor-se para a conversão (I):
“Porque todo el que pide recibe”[1]
O primeiro passo no caminho de conversão não é fixar o olhar no pecado, mas no amor de Deus. Não se trata de fazer-nos acusações, mas de deixar-nos atrair pelo carinho de um Pai que, porque conhece nossos vazios, nos oferece o melhor, o que mais necessitamos para que nossa vida tenha a qualidade e a dignidade de filhos seus.
Somente na medida em que seremos capazes de descobrir-nos amados, estaremos em condições reais de descobrir quão distantes estamos de Deus e de valorizar os dons perdidos.
Por outra parte, visto que não se trata de perfeccionismo moral, mas de acolhida da graça de um Deus que realiza a páscoa em nós, o ponto de partida é a confissão de nossa impotência, o reconhecimento aberto de que somos necessitados, que não podemos andar em frente somente com nossas as nossas forças e que, para tanto, necessitamos estender as mãos em súplica confiante.
A segunda catequese de Jesus sobre a oração no sermão da montanha (Mt 7,7-12), concatena os movimentos do coração que se dispõe a acolher os dons da vida que vem do Pai:
(1) Nos vv.7-8 encontramos uma série de três imperativos (“pedi”, “buscai” e “chamai”). A ênfase está no movimento de saída. O orante é essencialmente um buscador cuja certeza da bondade de Deus o põe em movimento até ele. E se sai com a certeza da resposta. Por isso quando alguém acode a Deus, jamais se encontra com um vazio silencioso que desanima, mas que pelo contrário: se “recebe”, se “fala” e “se lhe abrirá”. Deus sempre escuta, com Ele ninguém sai com as mãos vazias.
(2) Nos vv.9-11 encontramos primeiro duas hipóteses (vv.9-10) que se inspiram no mundo dos pescadores da Galiléia, onde as pedras redondas e brancas do lago se assemelham a pães e onde os grandes peixes – enguias incluídas – se assemelham a cobras. Qualquer pessoa com mínima saúde mental admitiria que um pai nunca daria cobras a seu filho, dons enganosos que no final lhe fariam mal. Assim se inculca a certeza com a qual o orante se dirige a Deus: o que Ele nos oferece sempre nos faz bem. Assim não o entendemos à primeira vista.
Em seguida, no v.11, se chega ao ponto alto da catequese. As comparações anteriores sã a plataforma para afirmar que a bondade de Deus supera de longe o amor paterno/materno humano que já por si é extraordinário. Se no princípio se inculca a certeza da resposta, agora se inculca a certeza da bondade.
(4) No v.12, finalmente, se passa ao plano das relações cotidianas: ali não se admitem dicotomias espirituais, mas ao contrário, se constrói uma profunda unidade de vida: se recebemos também “damos”, tomando a iniciativa no amor, “fazendo” o bem aos doutros. A oração se funda num imperativo ético: ela é força interior que qualifica as demais relações.
Notemos que Jesus inverte a antiga frase de Tobias 4,15, “não faças a alguém o que não queres que te façam”, e a põem no positivo: “tudo quanto quereis que os homens vos façam, fazei vós a eles”. A nova fórmula é muito mais exigente porque pede para tomar a iniciativa, o que – se se o faz - já é um bom sinal de que se entrou num caminho de conversão, porque o centro já não sou eu mesmo (egoísmo) mas o outro. E é assim que Deus é (“esta é a Lei e os Profetas”).
O caminho da conversão se percorre pelo caminho da oração, cujos indicadores da rota certa são estas três convicções. A quaresma, porém, nos recorda que não somos orantes solitários, mas orantes que caminham juntos dentro de uma comunidade que se reconhece pecadora. No evangelho de hoje, de ponta a ponta, se insiste uma e outra vez no plural comunitário que converge na expressão “Vosso Pai” (v.11). A páscoa não é um ato individual: é a páscoa de um povo que a cada dia se purifica mais para ser uma verdadeira família.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
1. Minha vida de oração está sustentada pelas três convicções que Jesus traz no evangelho de hoje?
2. Onde tenho que por primeiro o olhar para iniciar “com pé direito” o caminho da volta à casa do Pai?
3. O Senhor me convida a freqüentar mais a oração comunitária como espaço por excelência da oração quaresmal. Como vou responder ao seu convite?
[1] Autor P. Fidel Oñoro, cjm, (http://www.iglesia.cl/especiales/cuaresma2013/orar2.html), tradução livre de Frei João Carlos Karling,ofm, para o site da Paróquia Rede de Comunidades São José, Gravataí.
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