Lectio 2ª feira Primeira semana da Quaresma[1]
“Quanto fizestes a um destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes”
A quaresma é um exercício do coração. O deserto de solidões que rugem, que espantam, encontra-se visitado por uma presença que seduz com sua ternura, cura o amor ferido e atrai fortemente para restaurar a comunhão quebrada ou descuidada (ver Dt, 32,10 e Os 2,16).
Jesus também, na sua quaresma no deserto, renovou profundamente seu “sim” a Deus que o reconheceu publicamente como seu Filho e o inundou com seu Espírito de amor. Ali deixou bem claro a pureza de suas intenções na missão de colocar o querer de seu Pai como o valor primeiro que guiaria seu inteiro ministério e o viver em função dos demais como critério básico de todas as suas ações, isto é, não utilizando jamais seu poder para seu próprio benefício.
O “Outro”, que é o Pai, e os “outros” que somos nós, os homens, são os pontos referenciais da vida e ministério de Jesus; em seu caminhar estará sempre tecendo esta dupla relacionalidade. Todo discípulo é chamado a seguir este caminho de descentramento pessoa,l combatendo o mal que o aprisiona em seu egoísmo. O exercício do amor é o grande horizonte espiritual da quaresma.
E, sabe-se, o amor tem que ser provado verificando seus motivos internos. Por isso o evangelho de hoje se apresenta em termos de juízo, de avaliação. Por um momento nos transportamos até o que será o momento final de nossas vidas, o encontro cara a cara com Jesus para responder pelo que fizemos e o que deixamos de fazer, de maneira que tomemos em tempo decisões que nos permitam chegar a alcançar o maior desejo de nosso coração: “Que minha vida futura seja espelho sem fim de tua beleza!” (Hino de Laudes).
Na parábola de Mateus 25,31-46, a majestade do Rei não anula a pressa delicada do pastor que presta seu último serviço ao rebanho que pastoreou um dia inteiro. Tem-se presente o momento no qual, ao guardar o rebanho no aprisco, dá-se à tarefa de separar as ovelhas dos cabritos, as quais necessitam maior calor. O medo que causa a idéia de um juízo vem matizado com esta imagem do Pastor, que representa sempre cuidado, atenção e amor para com o seu rebanho.
A separação que o Rei opera com atitude de pastor é um convite para que revisemos de que lado cada um de nós está. O critério fundamental é o amor e está formulado na frase: “Quanto fizestes a um destes meu irmãos mais pequenos, a mim o fizestes” (v.40; que aparece de novo em forma negativa no v.45).
Três pontos fortes aparecem:
(1) O amor se mede pelo “fazer”, não pelos sentimentos que declaramos, e nem simplesmente pela intenção.
(2) O amor pedido tem um distintivo: “aos maus pequenos”. Em Mateus, o pequeno é o frágil, física, emocional e espiritualmente; o que necessita todo tipo de apoio. Se caracteriza também por sua invisibilidade social.
(3) Jesus se identifica com os “pequenos” a quem chama “meus irmãos”. Existe uma presença sacramental de Jesus neles e com maior densidade porque são seus irmãos em sofrimento. Por isso se respeita ao pequenos como se respeita a imensa grandeza de Jesus, coroada pelo caminho da Cruz (sentido do título “Filho do homem”). É neles onde Jesus - o amado - pede ser buscado, honrado e servido.
A parábola não deixa nada em abstrato. Os indicadores específicos deste “fazer” no qual se exercita todo aquele que ama a Jesus são seis situações de precariedade onde a ajuda é urgente: (1) a fome, (2) a sede, (3) a necessidade de teto, (4) a nudez, (5) a enfermidade, (6) a perda da liberdade no cárcere. Todas elas, se as lemos em pares, nos pedem uma abertura grande do coração para (1) compartilhar a mesa, (2) acolher com o duplo abrigo da casa e da própria roupa e (3) sair da comodidade para buscar a quem está só e que, humilhado, não pode valer-se por si mesmo.
A capacidade de resposta efetiva ante o sofrimento do outro é a medida do amor. A quaresma nos pede este exercício de amor: dilatar o coração até que seja tão grande, tão descentrado de si mesmo e salvífico como o do Crucificado.
“Ao entardecer da vida seremos julgados sobre o amor”, diz São João da Cruz. Ao entardecer, ao final desta quaresma, aos pés do Crucificado seu amor de pastor que sofre e se ocupa dos mais desvalidos avaliará se nesta quaresma demos passos concretos em nossa capacidade de amar. Logo na Vigília Pascal , porque dissemos “sim” ao chamado de Deus no irmão, teremos autoridade para voltar a prometer nosso “sim” batismal de entrega total a Deus.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
1. Por que a quaresma começa com um convite a revisarmos a caridade para com os irmãos que sofrem?
2. Como se correlacionam a imagem do juiz e a do pastor? O que querem nos dizer?
3. Que tarefas concretas que expressam o “exercício do amor” vou realizar de maneira especial nesta quaresma? A quem? Em que momentos?
[1]Autor P. Fidel Oñoro, cjm, (http://www.iglesia.cl/especiales/cuaresma2013/orar2.html), tradução livre de Frei João Carlos Karling,ofm, para o site da Paróquia Rede de Comunidades São José, Gravataí.
** Esta reflexão encontra-se também em nossa Biblioteca Virtual, na seção “Quaresma e Tempo Pascal”. Para acessar este e outros materiais, Clique Aqui.
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